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Liberdade é amor, é mais forte que a paixão.

É sombra volante na cascata do firmamento,

é leve ave passante que guarda na garganta

suave canto de poderoso encantamento.

É como os pássaros que vêm e vão,

chegam não sei de onde, pousam,

e em busca de novos ninhos, lá se vão.

Partem deixando corações vazios,

Liberdade é saber que o pássaro azul

da felicidade pode logo voar e partir

para pousar num qualquer horizonte,

e para em outro coração, amigo, surgir.

E em nós reside a esperança derradeira

que, a qualquer momento, ao ninho deve voltar,

para depois sair célere em busca de prisão eterna

que é, certamente, a liberdade de poder voar.

A liberdade é o barco em mar de sereia.

Ela vem e vai ao sabor de delirantes ondas.

É um jogo, uns com sorte, outros com azar.

Protegendo amores, inflama, liberta, trapaceia.

  • Maria José Menezes

Durantes 30 anos de minha vida trabalhei como professora do Colégio Gomes Cardim. Por uns dois ou três anos, não me lembro bem, estive diretora. Mas eu me realizava mesmo como professora e como professora de adultos me aposentei.

Minha preferência sempre foi ensinar a aprender. Buscar meios para o nosso crescimento e o aprimoramento cultural das novas gerações.

Sendo professora de crianças maiores eu era feliz. Eu me lembro bem, lá pelos anos de 1956/57, eu era professora de 4ª série e o Colégio Gomes Cardim ainda funcionava em algumas salas anexas ao Colégio Maria Ortiz, que ficava ali atrás do Palácio Anchieta.

As turmas daquele tempo eram muito boas e os alunos eram inteligentes e esforçados. As famílias participavam da educação dos filhos. Eu podia usar a minha criatividade para incentivá-los e desafiá-los, os pais me apoiavam e a resposta dos alunos era quase imediata .

Certa vez propus a eles uma Viagem Imaginária pela Literatura. Através de fotos e periódicos da época que cada um trouxe de casa, apreciamos e selecionamos as melhores. A cidade que nos encantou e escolhemos para estudar através da Viagem Imaginária foi a Salvador, a capital da Bahia.

Naquela época, o material visual que precisava era escasso.

Para conhecer melhor o assunto escolhido e recolher material para nossa pesquisa, fui por minha conta, até Salvador.

A Bahia sempre foi um lugar encantador. Visitei museus, percorri as ladeiras mais famosas e trouxe muitos postais e fotos variadas que consegui reproduzir. Este material foi usado para começar a montar o a segunda parte do projeto.

As fotos e postais foram fixadas em cartazes e expostos em sala de aula para visitação. As outras séries foram convidadas a visitar a exposição e os alunos explicavam em detalhe usando os ensinamentos a fixaram. Todos ficaram ainda mais entusiasmados e orgulhosos.

Com toda esta exploração visual a Viagem começou a tomar forma de processo que eu coordenava com ajuda de algumas lideranças eleitas pelos próprios alunos entre seus colegas.

Fizeram redações, leituras, concursos de desenhos.

Quando notei que estavam motivados passamos para a construção de uma maquete.

A cidade de Salvador apareceu com o Elevador Lacerda, o Pelourinho, a Lagoa Abaeté, e até o Caymmi foi lembrado e sua música foi cantada no encerramento do projeto.


Maria José Menezes é professora aposentada, escritora capixaba e membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras


O homem desenvolveu-se a partir dos animais, e não há nenhuma descontinuidade importante entre ele e a ameba”

Neste insensato teatro que é a vida, a cena mostra um homem que se define como soberano entre todas os seres, mas não sabe onde buscar a serenidade e o equilíbrio para sua vida. Busca a verdade como valor humano, para fazer dela a motivação que o levará à formação de seus valores e, consequentemente, ao encontro da felicidade.

O espírito humano deseja encontrar uma verdade como um poema de amor, tão transparente que perpasse todas as formas de vida. Que seja uma oferenda que acalente corações, tão meiga que dê dignidade ao homem e significado ao seu viver.

É claro que não pretendo esgotar o tema. O desafio é refletir se há valores absolutos, intocáveis ou sacrossantos. Se um dia encontraremos a verdade plena.

A certeza é que os valores são construídos na sociedade e não podem ser colocados fora dela.

Diante de enormes desafios, o homem em sua ignorância, convivendo com o bem e o mal, tenta escolher, dentro da relatividade de sua mente, a verdade plena para fazer dela a motivação para sua existência.

Após o desenvolvimento da robótica ficou mais difícil discutir a superioridade do homem. Estabelecer a diferença entre um homem e os robôs, está cada vez mais temeroso porque todas as funções humanas, hoje, podem ser reproduzidas pela tecnologia.

Cozinhar, participar de sessões de terapia, executar trabalhos de limpeza ou auxiliar no resgate de pessoas são tarefas que podem ser executadas por robôs.

A vida assim, dominada pela ciência, não tem mais grandes valores porque não é vida.

A reflexão que tentarei expor é que não somos seres especiais, nem superiores por natureza. Mesmo diante de tantos avanços tecnológicos, a humanidade do homem não pode ser reduzida.

Assimilar os imperativos da vida moderna sem que interfiram neste seu caminhar em busca da verdade é imperativo para o homem moderno. Mesmo que o resultado desta procura seja parcial dará à discussão uma dimensão espiritual que diferencia o homem dos outros seres.

A pessoa humana participa em sociedade da construção de um universo de valores sociais, morais e éticos. Num aprendizado espontâneo que lhe confere a certeza da legitimidade cultural, a pessoa constrói sua consciência moral que o identificará como pertencente à sociedade.

Configura-se assim um dilema. Os pais, os professores e a mídia são formadores de novos valores e os valores humanos assimilados pelo indivíduo são pontes transformadoras que o levam à conscientização do ser melhor que deve ser, para fazer aflorar o que ele tem de melhor e para ser capaz de valorizar o que há de melhor nas pessoas.

Uma vez que os valores são produzidos pela sociedade e a sociedade está dividida em dominantes e dominados, a verdade procurada poderá ser imposta como visão do poder dominante que, impondo seus tentáculos na cultura dominada cria estratégias de ação dominadora.


Lembro-me, então de uma família que veio de uma das favelas do Rio de Janeiro, foi amparada por uma pessoa de posses. Esta lhes deu teto, proteção e colégio para os filhos.

Em seguida, para os adultos conseguiu que fizessem cursos profissionalizantes para que tivessem maior chance no mercado de trabalho.

No princípio, foi difícil, até podemos considerar que eles foram esforçados e conseguiram alguns certificados. Trabalharam em algumas firmas da cidade.

Por sua vez, a cultura da família, com princípios e valores fundamentais próprios, os fragilizava e dificultava o convívio com esta nova sociedade, tão distinta em valores e comportamentos. Começaram incorporando alguns valores estranhos. Estavam sacrificando importantes valores culturais conhecidos que formaram o seu caráter.

O primeiro a desistir foi o pai. Voltou para o Rio de Janeiro, para junto dos seus.


Neste exemplo, o que se procurou ilustrar foi a tentativa de ajustar indivíduos com valores próprios, isto é, incluí-los num sistema normalizador de uma nova classe social. Mas, sem o mundo de suas vivências, o homem perde a capacidade de incorporar outros valores quando muito diversos de significados e estranhos que as novas vivências trazem. Pode se tornar seu próprio abismo e tudo que ele constrói pode se transformar em desilusão.

Para ser franca, não sei bem quais vantagens e desvantagens de uma sociedade dividida em classes. O perigo que representa a ascensão social que foi programada para este caso.

Penso apenas que a divisão da sociedade em classes não deveria ser obstáculo na formação de valores universais e nem ser tão fechada a ponto de dificultar o acesso de pessoas a uma nova condição de vida.

Nestes casos, se o indivíduo optar pela ação virtuosa, pela coerência de princípios e não renunciar seus valores para não violentar suas convicções, terá que denunciar valores estranhos dos que considerar invasores de sua cultura.

Como um bem cultural não é calculado por seu valor econômico, aqueles que têm maior intimidade com a sua cultura e a considera como legítima, mostrará as duas faces da sociedade em que vivemos.

Tudo o que resultar terá impacto na vida do indivíduo, no meio ambiente e na vida das pessoas com as quais convivemos.


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